Um grupo de bilionários gasta fortunas para construir submarinos
capazes de descer na Fossa das Marianas, o ponto mais profundo dos oceanos
DISPUTA SUBMARINA
1. O bilionário inglês Richard Branson (à dir. do piloto Chris Welch) mostrou em abril o Virgin Oceanic, submarino de US$ 17 milhões no qual quer descer os 10.911 metros da Fossa das Marianas;
2. Ir ao ponto mais fundo do oceano também é a missão do Triton, um submersível de US$ 15 milhões feito numa esfera de vidro;
3. Eric Schmidt, o presidente do Google, gasta US$ 40 milhões no Deepsearch, que terá a forma de um torpedo e levará três pessoas ao fundo das Marianas.
As últimas fronteiras para a aventura humana parecem estar se esgotando. Alcançar o Polo Sul, no meio da Antártica, não é mais tão exclusivo. Há até corridas que passam por lá. Escalar o Everest, a montanha mais alta do mundo, já virou pacote turístico. As viagens orbitais privadas entraram no roteiro dos milionários, com serviços como o da Virgin Galactic, do magnata britânico Richard Branson. Mas ainda há alguns desafios pendentes. Agora, três dos homens mais ricos e ousados do planeta estão disputando uma corrida inédita rumo a um dos últimos pontos inexplorados da Terra. É o Challenger Deep, o lugar mais fundo dos oceanos. Fica na Fossa das Marianas, um abismo gelado e escuro de 11 quilômetros no Oceano Pacífico, entre o Japão e a Nova Guiné. Na disputa para chegar lá primeiro estão o próprio Branson, além do cineasta canadense James Cameron, de Titanic, e o americano Eric Schmidt, presidente do Google.
A viagem dentro da Fossa das Marianas não é um passeio qualquer. Ali, aonde a luz do sol nunca chega, a temperatura desce até quase zero grau. A pressão da água é de 11 toneladas por centímetro quadrado – equivalente ao peso de dois elefantes africanos concentrado na área de um selo postal. Uma única vez, os humanos se atreveram a desafiar pressão tão esmagadora para fincar uma bandeira no Challenger Deep. Foi em 1960, quando o francês Jacques Piccard e o tenente americano Don Walsh submergiram a bordo do batiscafo Trieste, da Marinha americana. A descida durou cinco horas. Ao tocar o fundo, o Trieste ergueu muito sedimento, tornando a água turva. Piccard e Walsh não conseguiram enxergar nada através da escotilha. Ficaram no local apenas 20 minutos. Ninguém nunca mais voltou.
Agora, Branson quer ser o primeiro. Ele tem experiência em desafios. Depois de lançar grandes astros do rock com a gravadora britânica Virgin nos anos 1970, Branson expandiu o negócio e ganhou fortuna com a companhia de aviação de mesmo nome. Em 2005, criou a Virgin Galactic para oferecer voos orbitais de 15 minutos a passageiros dispostos a pagar US$ 200 mil. Até o momento, 430 milionários já fizeram reserva e aguardam na fila de espera a construção do espaçoporto de Branson, no Estado americano do Novo México. Em abril, Branson apresentou na Califórnia o Virgin Oceanic, um minissubmarino em forma de avião que custou US$ 17 milhões. Foi projetado para levar uma pessoa. O mergulho inaugural está programado para o final do ano, com um piloto profissional. Se o submarino operar com perfeição a grandes profundidades, no início de 2012 será a vez de Branson descer sozinho em duas horas os 11 quilômetros de água até o Challenger Deep, filmando e documentando tudo em 3D e alta definição. A aventura não para aí. Branson quer descer em todos os cinco pontos mais fundos dos cinco oceanos. Além do Challenger Deep, os outros quatro ficam nas fossas de Porto Rico, no Atlântico (8.605 metros); Diamantina, no Índico (8.047 metros); das Ilhas Sandwich do Sul, no oceano austral (7.235 metros); e a Ilha Molloy, no Ártico (5.608 metros). Segundo o jornal The New York Times, depois de conquistar suas façanhas, Branson começará a cobrar US$ 250 mil de qualquer um disposto a descer com um piloto na Fossa das Marianas.
Se Branson já venceu outras corridas, o cineasta Cameron tem vasta experiência em mergulhos ultraprofundos. No início dos anos 1990, durante a produção de Titanic, Cameron usou um minissubmarino russo para descer 4 quilômetros no Atlântico Norte e filmar o transatlântico naufragado. Em 2009, com o sucesso de Avatar, Cameron encomendou a um estaleiro australiano o projeto de um submarino para descer no Challenger s Deep. O projeto está avançado, porém nenhum desenho foi divulgado nem os valores envolvidos. Sabe-se apenas que o submarino terá todos os equipamentos necessários para filmar cenas submarinas em altíssima definição. Cameron diz que o barco servirá para ele se divertir com a família e produzir um documentário. Em Hollywood, comenta-se que Cameron planeja uma sequência submarina para Avatar 2. De todos os projetos milionários de submarinos bancados por bilionários, o único que parece realmente não ter nenhuma finalidade comercial é o Deepsearch, de Eric Schmidt. Dono de US$ 6,3 bilhões, ele parece seguir a trilha dos magnatas americanos do fim do século XIX. Alguns usavam parte da fortuna para criar universidades, teatros e museus. Schmidt está desembolsando US$ 40 milhões para projetar e construir o Deepsearch, o maior e mais sofisticado barco desta nova geração de minissubmarinos. Com o formato de um torpedo, terá espaço de sobra para transportar três pesquisadores e toda a parafernália científica de que precisarem para explorar o fundo do mar. O Deepsearch é um projeto da oceanógrafa americana Sylvia Earle, mundialmente conhecida por sua luta pela defesa do meio ambiente marinho. O dinheiro de Schmidt também será usado para construir um navio de apoio ao Deepsearch, cuja finalidade não será nem turismo nem lazer, mas ciência. Ou talvez um dia o Challenger Deep apareça no Google Street View, serviço que mostra imagens reais de lugares da Terra.
Há ainda um quarto competidor. Na Flórida, a empresa Triton Subs está projetando um submarino de design espacial, o Triton 36.000. O desafio tecnológico é modelar uma esfera de vidro ultraespesso e hiper-resistente de 4,1 metros de diâmetro, que leve em segurança três pessoas – um piloto e dois passageiros – até o Challenger Deep. A Triton Subs diz em seu site já ter fechado a venda de duas unidades por US$ 15 milhões cada uma. Os compradores são dois bilionários, cujas identidades não foram reveladas. Um deles deverá usar o veículo para o próprio lazer. O outro vai vender passagens. Cada assento custará US$ 250 mil, mesmo preço do Virgin Oceanic. Quem está na fila para o voo orbital em 2012 já tem um novo programa para as férias seguintes.
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