15 discos para entender o metal

De Black Sabbath a Mastodon, lista inclui vários subgêneros.


“Metal” é a palavra que define um dos gêneros mais fragmentados e extremos do rock. O termo vem de “heavy metal” (“metal pesado”, em inglês), uma das expressões de paternidade mais disputadas da música pop. Fala-se do escritor beat William Burroughs como primeiro artista a tirar o termo do mundo da química, enquanto são dezenas os jornalistas e bandas que tentam lembrar quem foram os primeiros a ser associados ao gênero. O fato mais concreto nessa contenda é que o primeiro grupo a utilizar a expressão “heavy metal” em uma música foi o Steppenwolf, na clássica faixa “Born to be wild”, da trilha sonora do filme “Easy rider”.




Durante a década de 1970, heavy metal foi rótulo para várias bandas de hard rock, todas influenciadas pelo blues eletrificado de bandas inglesas como Kinks, Rolling Stones e Yardbirds. Led Zeppelin, Deep Purple, Cream e Blue Cheer estão entre os pioneiros do gênero, mas existe um grupo que pode ser considerado o “pai” do metal: o Black Sabbath. Com seu primeiro disco, pesado e perturbador, deram à luz a um mundo de escuridão.





O primeiro momento em que o metal começou a ser codificado com mais propriedade foi na chamada “New wave of british heavy metal” (“Nova onda do heavy metal britânico”, em inglês), onde bandas como Iron Maiden e Motörhead estabeleceram um som mais característico – pesado, viurtuoso, rápido – para o gênero.

A partir daí, o metal fragmentou-se em inúmeras frentes: power metal, black metal, doom metal, death metal, black metal, thrash metal, hair metal e mais um sem-número de subgêneros. O estilo flertou com o mainstream de diversas formas ao longo do tempo – do sucesso das bandas com o cabelo cheio de laquê nos EUA nos anos 80 à dominação mundial do Sepultura (pavimentado pelo rock pesado alternativo e pelo sucesso de Metallica e Pantera, entre outros) na década de 90.


Para elaborar esta lista, o Site G1 recorreu a obras de referência sobre o metal, como o documentário “Metal: A headbanger’s journey” e o livro “Sound of the beast”, além de classificações como a elaborada pelo site especializado IGN, com os 25 discos mais influentes do gênero. Vale lembrar que nem todas as bandas citadas na lista podem ser consideradas de “metal” por todos os leitores: a idéia é contar a história do gênero, partindo das raízes do blues britânico até chegar na “New wave of american heavy metal” – uma viagem divertida, pesada e barulhenta.





Yardbirds – “Ultimate!” (2001, Rhino)


As raízes mais profundas do metal podem ser traçadas até “Rumble”, do guitarrista Link Wray, primeira música a usar uma guitarra distorcida, passando pelo solo maníaco de Ray Davies em “You really got me”, do Kinks, até chegar à banda que melhor fundiu a nova sensibilidade elétrica dos anos 60 ao blues norte-americano, o Yardbirds. Eric Clapton e Jimmy Page, que viriam dar forma ao hard rock e ajudar no nascimento do heavy metal vieram do Yardbirds, e eletrificaram faixas como “I´m a man” e “Smokestack lighting” de uma forma que os bluesmen mais radicais como “Screaming” Jay Hawkins e Howlin’ Wolf jamais teriam imaginado.





Black Sabbath – “Black Sabbath” (1970, Warner)


Faixas como “Behind of the wall of sleep” e mesmo a clássica “The wizard” mostram que o Sabbath não estava tão longe dos seus contemporâneos que faziam do blues o hard rock. Mas a faixa-título, abrindo o álbum em tom menor, com o som sinistro da chuva e dos sinos, e os gritos nunca atendidos de ajuda de Ozzy Osbourne, fundou o gênero conhecido atualmente como heavy metal. A macabra “N.I.B.” conta com a seguinte frase: “Meu nome é Lúcifer, por favor, pegue na minha mão” – todas as associações do metal com o oculto começam a partir daqui.






KISS – “Alive!” (1975, Universal)


Com suas máscaras e com shows teatrais, o KISS é o elo perdido entre o chocante Alice Cooper, os transformistas do New York Dolls (que viriam a influenciar o glam metal) e os adereços de palco da nova turnê do Iron Maiden. Ao vivo, o Kiss ainda é imbatível: Gene Simons vomitando sangue e cuspindo fogo, Ace Frehley voando – o show da banda já chegou a poder ser visto em 3D. Mesmo sem a pirotecnia do palco, foi com um disco ao vivo que a banda conquistou corações – especialmente com “Rock ‘n’ roll all nite”, um hino à boa vida roqueira.



 
 
 
 
 
Motörhead – “No sleep ‘til Hammersmith” (1981, Bronze)


O Motörhead já foi considerada uma das bandas mais altas (em decibéis) do mundo, posto disputado ainda com My Bloody Valentine e Manowar. Por sorte, o Guinness desistiu de estabelecer o recorde de “grupo de rock que toca mais alto” depois de registrar 126 decibéis em um show do The Who em 1976 – acima de 80 decibéis começam os danos à audição. Mas em seu tempo, o trio liderado pelo barbudo verruguento Lemmy Kilmister também era o mais rápido e gutural que existia, lançando a base do speed e do thrash metal. A melhor prova de que eram imbatíves no palco é este álbum ao vivo, juntando clássicos da banda como “Ace of spades” e “Overkill”.






Iron Maiden – “The number of the beast” (1982, EMI)


O Iron Maiden foi a grande banda da New Wave of British Heavy Metal, que ajudou a definir o que reconhecemos atualmente como metal. Depois do Black Sabbath, o Maiden é provavelmente o grupo mais influente da história do heavy metal. “Number” é o primeiro disco da banda com Bruce Dickinson nos vocais e traz hits como “Hallowed be thy name” e “Run to the hills” (ambas no setlist atual da turnê do grupo). O clima de filme de terror, os trechos de diálogos de filmes, os vocais “operísticos” e o clima épico iria definir para sempre a imagem do Iron Maiden.







Venom – “Black metal” (1982, Neat)


O Venom levou a tarefa de assustar os pais ao extremo com seu segundo álbum e, de lambuja, criou e nomeou um subgênero onde o satanismo e o oculto seriam tomados completamente a sério. O som extremo do Venom influenciou o thrash, o death e especialmente o “true norwegian black metal” – cujos integrantes, de bandas como Mayhem e Burzum, queimariam igrejas e matariam uns aos outros no início da década de 1990. Faixas como “Countess Bathory” (sobre a “condessa vampira” húngara do século XVII), “Leave me in hell” e “Black metal” fizeram mais pelo crescimento do satanismo no mundo que a “Bíblia satânica” de Anton LaVey.






Mötley Crüe – “Shout at the devil” (1983, Elektra)


No Brasil o som de bandas como o Mötley Crüe e seus colegas da Avenida Sunset Strip, em Los Angeles, normalmente não é associado ao metal – apesar de serem reconhecidos como uma das bandas mais famosas do “hair metal” em obras como “Metal: A headbanger’s journey” e “Sound of the beast”. Influenciados pelo glam do New York Dolls e Slade (além dos finlandeses do Hanoi Rocks), os integrantes do Crüe usavam maquiagem, roupas femininas e muito laquê nos cabelos – que o digam músicas como “Looks that kill”. Mas isso não quer dizer que eram aproveitadores que não sabiam de onde vinham – uma das faixas do disco é uma cover de “Healter Skelter”, protometal dos Beatles.





Slayer – “Reign in blood” (1986, Def Jam)


Em 1986, esse era o disco mais rápido, brutal e agressivo a aparecer por uma grande gravadora. A influência do Slayer vai muito além do thrash metal, e foi uma das bandas responsáveis pelo surgimento do death metal de artistas como Obituary e Deicide. E “Reign in blood” misturou tudo que havia de mais extremo, no som e nos temas, para criar uma obra prima do heavy metal. Os vocais guturais de Tom Araya estão à beira da imcompreensão, a velocidade das guitarras de Kerry King e Jeff Hanemann é assombrosamente rápida, e Dave Lombardo é um monstro, literalmente, na bateria. Graças ao Slayer, o mundo é um lugar um tanto mais assustador.






Metallica – “Master of puppets” (1986, Elektra)


É praticamente impossível escolher o melhor ou mais importante entre os quatro primeiros álbuns do Metallica, mas “Master of puppets” conseguiu o equilíbrio certo entre a urgência de “Kill ‘em all” e a técnica de “...And justice for all”. Lançado em 1986, mesmo ano de “Reign in blood” do Slayer, “Master...” também é a estreia da banda em uma major – no caso, a Electra. O disco foi gravado na Dinamarca, no mesmo estúdio onde a banda fez “Ride the lightining”, de 1984. Coeso, o disco de despedida do baixista Cliff Burton, que viria a morrer em um acidente com o ônibus de turnê da banda, é um tratado de thrash metal do começo ao fim, passando por clássicos como a faixa-título e “Welcome home (Sanitarium)”.





Helloween – “The keeper of the seven keys pt. 1” (1987, Noise)


O que no Brasil se conhece por heavy metal melódico muitas vezes é chamado de power metal em outros países. O Helloween é um dos mais importantes representantes do gênero, que se caracteriza pelo apelo quase sinfônico e influências da música clássica ocidental. “Keeper of the seven keys” foi pensado pelos alemães para ser um álbum duplo, mas a gravadora insistiu para que fosse dividido em duas partes. A rapidez das guitarras é combinada com uma técnica impecável, com solos melódicos, enquanto a voz do cantor Michael Kiske encontra alturas operísticas, completando o clima Wagneriano de músicas como “Twilight of the gods” e “Future world”.






Ministry – “The land of rape and honey” (1988, Warner)


Nascido como uma banda de eletrônica pop no começo dos anos 80, o Ministry foi influenciado pelo rock industrial de bandas como Throbbing Gristle e Cabaret Voltaire – quando adicionou riffs de metal sampleados às experimentações concretistas, acabou criando metal industrial ao lado de grupos como Skinny Puppy. Reprocessando o som metálico e se valendo de temas como morte, violência e ocultismo (“Golden Dawn” faz referência ao culto liderado por Aleister Crowley), o Ministry influenciou gerações de artistas, de Nine Inch Nails a Marylin Manson e até parte do nü metal. Eles fariam ainda mais sucesso década de 90 adentro, com o disco “Psalm 69” e músicas como “N.W.O.”, mas é com “The land of rape and honey” e sua faixa de abertura “Stigmata” que a história começou.





Dream Theater – “Images and words” (1992, Warner)


Fruto da fusão entre o peso do metal e o formalismo clássico do rock progressivo de bandas como Rush e Emerson, Lake & Palmer, o metal progressivo encontrou seu grande momento no Dream Theater. Formado por músicos que estudaram na Universidade de Berklee, em Boston, o Theater é uma banda cerebral, quase matemática, cujas músicas soam como pequenas e complexas sinfonias. Isso não impediu o sucesso da banda, que alcançou o disco de ouro com “Images e words”, com direito ao hit “Pull me under” em alta rotação na MTV.







Sepultura – “Chaos A.D.” (1993, Roadrunner)


A maior banda de metal brasileira de todos os tempos, o Sepultura teve seu auge com “Chaos A.D.”, disco que levou para o mainstream uma fama cimentada no underground com discos como “Beneath the remains” e “Arise”. Com um som voltado para o thrash metal, a banda abraçou também a política em letras como “Refuse / Resist” e “Biotech is Godzilla” (parceria com o punk Jello Biafra, ex-Dead Kennedys). Ao lado do vocal grave de Max Calvalera e da tensão crescente construída pelas guitarras, destaca-se a bateria de Iggor Cavalera em faixas como “Territory” e a instrumental “Kaiowas”.







System of a Down – “Toxicity” (2001, Sony)


De toda a geração do nü metal, o System of a Down foi a banda que mais se aproximou do metal “clássico” dos anos 80, com grande influência de grupos thrash como Anthrax e Metallica. Mas o quarteto, formado por músicos de origem líbano-armênia, também aprenderam as lições do Sepultura em “Roots” e misturaram suas raízes ao seu som, adicionando elementos de música folclórica do Leste Europeu e Oriente Médio. Porradas como “Prison song” e “Toxicity” se alternam no principal disco da banda com momentos mais “pop” (e ainda pesados) como “Aerials” e o hit “Chop suey”.







Mastodon – “Leviathan” (2004, Relapse)


Depois do nü metal dominar a cena no final da década de 90, nos EUA o metal passa por um renascimento – em 2005 o jornalista Garry Sharp-Young lançou um livro que nomearia esse movimento: “New wave of american heavy metal”. O Mastodon é uma das bandas mais promissoras dessa leva, e foi “Leviathan”, álbum conceitual sobre o livro “Moby Dick”, que levou a banda ao reconhecimento mundial. Fundindo uma técnica instintiva que os aproxima do metal progressivo, tempos lentos do doom e a agressividade do thrash, a banda é quase inclassificável (apesar de muitos insistirem no rótulo sludge metal). Mas no fim toda a discussão vem abaixo diante da força de faixas como “Blood and thunder” e “Aqua dementia”.





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