Nos 23 atletas convocados por Dunga para a Copa do Mundo há vários exemplos de superação e trabalho duro antes do estrelado com o futebol
A realidade é de conforto, luxo, contratos milionários, fama. Mas nem sempre a maioria dos jogadores da seleção brasileira ostentaram carros de primeira linha nas garagens ou brincos com diamantes nas orelhas. O passado foi duro, de limitações e histórias de superação. Se atualmente o técnico Dunga quer ver em campo um time de guerreiros, pode-se dizer que o grupo que vai disputar a Copa do Mundo de 2010 é cheio de trabalhadores. Literalmente.
Antes do estrelado com a bola, vários jogadores colocaram a mão na massa, tiveram que se arriscar em outras profissões. O caso mais conhecido é, sem dúvida, o de Gilberto Silva. Vendo o pai Nízio trabalhar duro cortando cana para sustentar a casa, o volante resolveu começar a trabalhar aos 14 anos e foi assistente de obra para ajudar na renda familiar Lagoa da Prata, cidade do interior de Minas Gerais. Quando conseguiu passar em um teste no América-MG, se mudar para os alojamentos das categorias de base em Belo Horizonte e começar a treinar no juvenil, Gilberto Silva viu a mãe Maria Izabel lutar contra uma insuficiência renal. Após cinco meses no clube, resolveu largar tudo e voltar para casa.
- Por ser o filho mais velho, eu me senti na obrigação de voltar. Tinha na cabeça que precisava arrumar um emprego e ajudar o meu pai porque a situação estava complicada em casa – lembra o volante, que não recebia salário no América-MG.
Gilberto Silva arrumou um emprego em uma fábrica de doces da região. Ganhava um pouco mais de um salário mínimo por mês. Foram dois anos e cinco meses ajudando na produção de balas de caramelo. Até que, aos 19 anos, conseguiu retornar ao América-MG e, finalmente, seguir o caminho do sucesso.
Em Barra do Piraí, cidade do interior do Rio de Janeiro, Ramires trabalhou parte da adolescência como auxiliar de pedreiro. Ajudava os tios Jairo e José nas obras pela região para ganhar dinheiro e ajudar no orçamento da família. Debaixo de sol quente, o meia carregava pedra, tijolo...
- Pela nossa necessidade fui obrigado a criar essa responsabilidade desde cedo e acredito que isso me ajudou na vida. Precisava ajudar em casa e comecei a trabalhar como ajudante de pedreiro com o meu tio - lembra.
O zagueiro e capitão Lucio também não teve vida fácil. Na adolescência, trabalhou entregando jornal. Acordava às 4h da madrugada. Pegava a bicicleta e saia pedalando pelas ruas do Distrito Federal. A rotina era puxada. Depois, ele ia direto para o Planaltina, clube da região, treinar e seguir com o sonho de virar um jogador. Não foi o único serviço do zagueiro. Ele fazia de tudo um pouco. Já vendeu picolé, ajudava a mãe Maria Olindina no comércio informal de roupas, montava e desmontava barracas.
- Foi importante essa fase na minha vida para eu dar valor às coisas, ter a consciência de onde eu vim, ter a humildade, sempre o pé no chão - garante o capitão.
No sertão nordestino, Daniel Alves começou a trabalhar cedo no povoado de Umbuzeiro. Aos dez anos, ajudava o pai na plantação. Enxada na mão, sol de 40 graus na cabeça. Na terra seca do sertão baiano, plantar melão e cebola para vender era o principal sustento da família de Domingos Silva.
Aos 13 anos, Daniel Alves saiu de casa e foi morar com o irmão em Juazeiro para tentar seguir a carreira no futebol. Mesmo assim não parou de tentar ganhar dinheiro fora das quatro linhas. Com as filmagens do longa “Guerra de Canudos”, ele conseguiu um emprego temporário como figurante. Pela pequena participação como um dos soldados, ele ganhava R$ 5 por dia de gravação.
- Mas acho que ninguém vai me conhecer porque eu estava ali no meio de todo mundo. Mas foi muito legal – contou o jogador, que revelou a história pela primeira vez na Copa América de 2007, e é fã de Will Smith e Julia Roberts.
Em Iracemápolis, uma cidade do interior de São Paulo com cerca de 20 mil habitantes, Elano ajudou o pai Geraldo no cultivo da cana, principal atividade econômica da região. O meia via o esforço da família para garantir o sustento de casa.
O goleiro Gomes ajudava o pai plantar milho e feijão na roça na pequena cidade de Três Marias, em Minas Gerais. Começou cedo, aos sete anos de idade. Quando jogou no Democrata-MG, ele também foi o responsável pela cozinha na concentração do clube. Comprava os pães, passava a manteiga e distribuía os lanches para os demais garotos do elenco. Outro que trabalhou na roça foi o meia Kleberson. Durante a adolescência, ele ajudava a mãe Maria na plantação de algodão para aumentar a renda familiar.
O atacante Grafite também não teve vida fácil. Tinha que trabalhar como vendedor de saco de lixo, em Jundiaí, para ajudar a sustentar a família. Só aos 20 anos conseguiu chance no time de Campo Limpo, na quinta divisão paulista.
Luis Fabiano teve a experiência de ser ajudante mecânico. Triste após ser dispensado pelo Guarani, o atacante trabalhou por três meses em uma oficina perto de casa, em Campinas. Apesar de gostar de carros, o garoto de 14 anos não deu muito certo com as ferramentas. Sorte do futebol...
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