Procuradora acusada de tortura chora e diz sentir falta de criança

Vera Lúcia negou agressões à menina que pretendia adotar.

Ela está presa em Bangu, e deu entrevista com uniforme da prisão.
 
 


A procuradora aposentada Vera Lúcia Gomes, presa acusada de agredir uma menina de 2 anos que pretendia adotar, disse sentir falta da menina. Durante a entrevista, dada dentro do presídio de Bangu, na Zona Oeste do Rio, ela apontou culpados diferentes pelas agressões à menina.



Mesmo diante de fotografias e gravações documentando maus tratos, Vera Lúcia admite apenas ter xingado a criança, e se diz vítima de uma armação.



"Morro de saudade", disse ela, chorando."Eu tenho certeza de que se essa menina me vir, ela me abraça", completou.



Em dois momentos da entrevista, a procuradora apontou culpados diferentes para a agressão. Primeiro, respondeu afirmativamente que acredita que possa ter sido vítima dos empregados. “Eu acho isso uma grande armação. Não acho que foi só comigo não, eu acho que a maior armação foi com a criança, porque elas não se conformavam. A menina era parda, tinha um cabelinho crespinho, e eu passava aquela prancha para pentear”.



Minutos depois, no entanto, ela apresentou outra hipótese: a de que uma pessoa estranha à casa tenha agredido a menina: “Empregado abre porta. Fiquei sabendo que teve gente dentro da minha casa que eu não autorizo. Que subiu gente na minha casa nesse dia e eu não estava lá”, disse a procuradora.



A entrevista foi na sala da diretoria do presídio, em Bangu, no subúrbio do Rio de Janeiro, onde ela está presa. Vera Lúcia Gomes vestia o uniforme que toda presa é obrigada a usar na cadeia: camiseta branca, calça azul e chinelos.



Nas três horas de entrevista, ela não se recusou a responder nenhuma pergunta, e negou ter agredido a menina de 2 anos que pretendia adotar: “De maneira nenhuma. Isto é a maior calúnia, maior infâmia, a maior loucura”, afirmou Vera, que disse, ainda, não reconhecer o laudo do Instituto Médico Legal que apontou que as lesões na criança foram graves.



A procuradora negou que tenha partido dela algumas expressões que constam na denúncia como, segundo testemunhas, “você não vale nada”; “sua vaquinha”; “cachorra”, mas admitiu ter usado palavras rudes com a menina: “Uma vez houve sim. Eu tive um aborrecimento com ela, ela sujou dez roupas e jogava o leite. Eu disse ‘vamos à psicóloga, tem que ir’ e ela jogava e eu realmente perdi a paciência”.



Procuradora admite ter visto uma lesão

De todas as lesões que a menina apresentava, a procuradora Vera Lúcia admite ter visto apenas uma: “Eu peguei uma canequinha que ela tinha e botei essas uvinhas mocatel, sem caroço, e ela pega isso e derrama pela casa inteira. Aí ela levou um tombo e a empregada também”, contou Vera, que disse não ter presenciado o momento exato da queda.



Vera Lúcia também contou os motivos que a levaram a procurar uma criança para adoção: “Meu Deus, eu vou me aposentar e para quem que vai ficar esse dinheiro que eu vou me aposentar, para quem vai ficar? Vai ficar para o Estado. Não está direito isso. Eu acho que tem tantas crianças necessitando”, disse.



Há oito dias, a procuradora divide uma cela com outras nove presas: “As meninas da cela me acham super simpática. Acham que eu tenho um astral altíssimo, quer dizer, eu sou uma pessoa que sempre penso positivo. Eu nunca penso, não sou de negativismo, certo?”, completou.



A defesa de Vera Lúcia ainda tenta conseguir um habeas corpus para que ela responda ao processo em liberdade. A promotora do caso espera que o julgamento aconteça em julho deste ano.



“Eu, mais do que ninguém, mais do que a mídia, mais do que a imprensa e como membro do Ministério Público, eu quero descobrir quem foi o infeliz ou a infeliz que fez isso, e quero que o culpado vá para a cadeia”, concluiu.






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